Foi por impulso que no mês de julho o técnico de vela Bernardo Arndt comprou um veleiro de 45 pés e resolveu de uma vez por todas colocar em prática um sonho antigo: viver o resto da vida dentro de um barco. Como ele, muita gente tomou a mesma decisão, seja para morar no barco, ter uma nova opção de lazer ou um refúgio seguro e livre do novo coronavírus.
''Bem no auge ali na pandemia, naquela loucurada lá, eu pirei um pouquinho e acredito que todo mundo pirou um pouco também. A pandemia foi o gatilho, eu fui até impulsivo na hora de comprar o barco, eu falei ''não aguento mais, eu vou comprar o barco'' e em uma semana eu comprei o barco'', disse ele à CNN.
Com a decisão de Bernardo e de muitos outros brasileiros, o mercado náutico deve fechar o ano com o crescimento de 20%, número que surpreendeu empresários do ramo por vir na contramão da retração da economia. A estimativa é da Associação Brasileira dos Construtores de Barcos e seus Implementos, a Acobar.
Habituado a navegar, aos 53 anos, Bernardo vive como professor e técnico de vela. Antes disso foram 17 anos como velejador profissional, três Olimpíadas, prata nos Jogos Panamericanos e 20 títulos nacionais. Se você viu os jogos de Atenas, Seul ou Barcelona, talvez lembre de Bernardo - ou ''Baby'', apelido que atravessou o oceano.
Casado e com dois filhos, a Marina, de 19 anos, e o Marcos, de 17, Baby tomou a decisão sozinho, mas a esposa deve acompanhá-lo. O barco está em Paraty para os últimos ajustes da mudança, a colocação de placas de energia solar.
''O aumento da demanda [por embarcações] se deve por alguns fatores como: as pessoas viajarão menos, o barco é um excelente meio de lazer em família e com amigos, além de proporcionar uma forma de isolamento social tão importante neste momento de pandemia mundial'', explica Eduardo Colunna, presidente da Acobar.
Lojas vendem 50% mais
Se na média geral do mercado o balanço do fim do ano deverá apontar um aumento no faturamento de 20%, no caixa dos vendedores de embarcações pequenas e médias o salto pode ser maior. Na loja do Valdir Brito Júnior, não há mais motos aquáticas em estoque e as encomendas só chegam no ano que vem.
''A gente tinha uma programação da linha 2020 que a gente esperava que fosse até o final de novembro. Mas [para] pronta entrega hoje já não tem produto. A previsão é começar a chegar a linha 2021 agora em dezembro. Então vamos ficar aí em torno de uns dois meses sem produto no mercado inteiro'', conta.
Na loja de iates do consultor Celso Delpoente, que também fica na capital paulista, os mesmos 50% de crescimento na comparação com o ano passado. ''Ninguém esperava, né? Acho que nem o mais otimista esperava um aumento da demanda como foi'', conta.
Marinas movimentadas
Com aeroportos fechados, as garagens de barcos têm registrado movimento mais intenso que o mesmo período do ano passado. No Rio de Janeiro, a Marina da Glória ganhou 10% a mais de barcos abrigados na pandemia, batendo 300 embarcações.
O Iate Clube do Guarujá também ganhou novos barcos, numa alta de 27%. Dois terços disso graças a lojistas, que, entusiasmados com o aquecimento do setor, levaram novos barcos pra tentar vender.
Compra compartilhada
Pra muita gente, ter um barco sempre foi um sonho distante. Hoje em dia, no entanto, o item se tornou um pouco mais acessível. É que, apesar da disparada do euro e do dólar frente ao real, uma modalidade de compra tem se popularizado cada vez mais nos últimos quatro anos, a venda compartilhada, ou ''share''.
Neste tipo de compra, de quatro a dez pessoas dividem o preço de um barco e os custos de manutenção e marina. Um barco novo de 7,5 metros de comprimento e 1,6 tonelada, por exemplo, custa R$ 250 mil e tem um custo mensal de manutenção e marina que pode chegar a R$ 2,5 mil. Se dividido por 5 cotistas, o valor sairia por R$ 50 mil do barco mais R$ 500 mensais, o equivalente a um carro popular 1.5 com 130 cilindradas.
Fonte: CNN Brasil